segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Espero que dure...



Eu comecei esse blog inspirado na musica do Leoni - As cartas que eu não mando. Não achei o nome que queria, então o nome do site virou espantoedesejo em homenagem a uma daquelas musicas do CD que meu irmão não parava de ouvir e eu estava fascinada nela. Assim de um verso da musica "O Passeio de um Anjo - Roupa Nova nasceu esse blog. Certo? Também.

Talvez eu deveria odiar o fato de que ele nasceu por causa de um coração magoado, pode-se até dizer partido, mas não quebrado. Encantei-me por um garoto num desses romances aleatórios da vida com apenas um olhar dele diferente pra mim. Sei lá, pode parecer pegadinha, mas eu lembro quando ocorreu: estava no boliche com meus amigos, e ele chegou acompanhado do meu amigo, eu agachei e coloquei a mão na perna do meu amigo pra poder sentar e fiz um comentário com esse garoto e ele olhou pra mim como se nunca tivesse me visto (a gente já se conhecia). BOOM. Eu poderia ter me apaixonado ali. E aconteceu... Não quero falar mais dessa historia, não porque ela possa doer ou algo do tipo, mas só que depois de um ano vivendo ela de alguma forma eu posso afirmar: terminei essa historia, posso devolver o livro pra biblioteca e falar: "é, foi legal. Quem tem um livro novo?"

Não é ironia, eu apenas posso dizer que passou. Estou grata de alguma forma, não mais magoada e estou bem. Segui em frente. Pena que esse blog não ficou só nesse desamor, teve outro que poderia ter dado certo, mas como sempre vivo apanhando para a tecnologia... Esse cicatrizou mais rápido, deixou uma mágoa maior no começo, mas cicatrizou do mesmo jeito. Estou muito bem. Grata. Sem ironia.

Mas acho que deveria falar de outros amores, que também não deram certo, mas tornaram esse blog bem mais colorido: meus amores platônicos. Todos eles. O garoto do alargador e tatuagem que fuma de vez em quando e que sorriu quando soube que eu fumava (fumar não fumo, isso é outra historia), o menino de blusa branca que sempre achei lindo e agora é definitivamente meu amigo, meu amor e amigo que sempre ganha doce quando me ver, ou até aquele garoto de cabelo verde do Templo Budista que me deu marshmallow porque eu pedi e me deu um sorriso. A todos esses amores platônicos (e outros) que me receberam com um puta sorriso quando me viram ou eu conquistei um sorriso de felicidade ou com um gesto simples: eu agradeço. Vocês fizeram eu me apaixonar nem que seja por dois segundos, dois minutos, dois dias, duas semanas ou dois tempos não vividos. Vocês foram a razão de eu continuar aqui...

De não só escrever sobre esse velho coração que foi magoado ou já magoou. Vocês foram a razão de eu pensar em coisas alegres enquanto estava chorando, de me fazerem mudar um teoria sobre bebida e Templo Budista, são a razão de eu andar com doce na bolsa ou sempre caprichar na dosagem de perfume. São vocês que ajoelhados, sentados, jogados, brigando comigo ou me cutucando me fazem sorrir. Que estão na roda de amigos e se levantam e falam comigo, que piscam a distância, que me permitiram beijá-los e que me amaram. Sério, sem essas coisas mínimas eu não seria essa pessoa gentil com desconhecidos, ou fofas como vocês dizem...

Vocês me fizeram acreditar que gentileza gera gentileza, fizeram eu aprender isso na prática e me deram motivos para acreditar que mesmo que não seja eterno pode ter sido bom enquanto durou. Sabe, nem todos vão me fazer ganhar pontos no cartão-cupido e eu poderei reverter na viagem da Disney, mas vocês foram marcantes até aqui.

Depois de um ano agradeço por não estar chorando com 50 Receitas do Leoni enquanto releio esse blog, ou de não ter mais ódio de carros amarelos com tema da Copa, ou ouvir aquela musica da torta de amora e ficar com vontade de ir na casa de alguém e falar algumas verdades. Sabe o que eu faço nesse momento?

Tomo um Mupy de maracujá (que foi presente do meu Cavaleiro) enquanto Lulu Santos canta 'Apenas Mais uma de Amor' e sorrio. Fico pensando no "e se..." e todas as suas possibilidades que ela me rendeu, poderia ser tão diferente tudo agora: tantas pessoas que eu não teria conhecido se eu não tivesse sofrido um pouco por amor. Paro e sorrio por agradecer tudo que me trouxe até agora esse blog.

The Wanted começa na minha playlist e me animo ao som de 'Glad you Came' enquanto uma sms me rouba um sorriso. Pode não dar em nada, e aquela frase do meu amigo carregada de ironia se torna o lema dessa nova fase do meu blog "espero que dure..."

FELIZ ANO DE BLOG <3

Feliz Aniversário Blog




Nesse domingo, meu Blog fez um ano de vida :)
Tanta coisa já passou por ele, tanta coisa foi vivida por mim...
Bem, sem delongas vou contar essa história num outro texto/post, esse é só pra marcar essa data mesmo <3

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Zona de Conforto


Eu estaquei na Zona de Conforto. Numa falsa sensação de que estava tudo bem, que conseguia erguer meu braço o mais longe possível e poder alcançar tudo o que eu queria. Eu estava errada e fui preciso apenas uma palavra para desencadear uma discussão tão boba e grande que eu me tranquei no meu canto, nessa maldita zona de conforto e então pude perceber que eu estava errada.

Perdi-me daquela garota que aquele garoto falava naquela discussão... Aquele que sabia exatamente o que queria, que ia atrás, buscava e carregava pra sua casa o prêmio da vitória. A minha unica salvação é que ela não morreu totalmente, ainda há algo dela ali na escolha rápida de um sapato ou no que comer, mas ela se perdeu quando o assunto era o coração.

Conectou-se em algo, pôs suas expectativas e acordou sabendo que não era bem o que procurava. Deu um pontapé na escolha certa para o momento e depois mandou sms perguntando quando ela voltava. Maldita ironia do destino de deixar tudo tão confuso logo depois que parecia tão certo.

Encolho-me por baixo das cobertas enquanto espero uma resposta. Não vou fazer um sorteio do meu coração ou da minha vida, talvez seja culpa minha se não sei realmente organizar minha agenda e acabo perdendo algumas coisas. Sabe aquela Jam que não fui? Pois é, eles tocaram Daft Punk nela e eu perdi. Não vi meu sorriso tímido durante a baforada de um cigarro, não tive a oportunidade de roubar aquela maldita toca peruana que eu quero ou de virar realmente amiga do guri da blusa branca. Na hora isso não me incomodou, mas depois veio o incomodo...

PORRAN GURIA!  Levanta dessa zona de conforto. Suas aulas de francês são tão divertidas na teoria, e na hora de estudar é sempre tempo para qualquer outra coisa, né? Parabéns pra você! Ouvi a voz mais calma do mundo gritando comigo sobre isso e outras coisas que me encolhi mais ainda.

É, eu não fui feita para brigar. Eu lembrei de outra conversa numa tarde que acabou gerando um texto que ainda não tive coragem de postar. Suspiro e olho para a parede onde tudo está uma bagunça com ursos de pelúcia espalhados, duas almofadas de pessoas diferentes, poster de amores antigos mas não esquecidos.

Onde estou nessa parede de azul desbotado? Onde está aquela tarde de chuva onde eu nunca ri tanto por falar mala da garota de sobrenome Swan? Porque nunca ganhei as fotos do dia na lareira daquele período de doce namoro? Deixei-me esquecer de alguma coisas, deixei que a preguiça me dominasse e o amanhã eu faço virou meses, até que as fotos agora adonam uma parede bucólica bem longe de mim e a reforma da parede estacou no tempo. Sorrio pensando em como nunca reparei que a maior característica da Zona de Conforto é a anestesia.

Não sinto nada, nem animo, nem desanimo, vivo nessa eterna preguiça de viver meus dias, o que torna tudo tão irônico. Quer um exemplo pratico? Eu devo parar de esperar algumas coisas, um exemplo mais que perfeito foi o segundo sábado do Templo Budista. Estava com dor de cabeça, desanimada, mas havia prometido que ia. Não garantia diversão pra nada, e aconteceu tudo do contrário. Tive o melhor templo da primeira quinzena do mês onde conheci duas pessoas e até o guri que sempre aparecia na minha timeline e eu não sabia quem era.

Eu parei em alguns momentos de esperar algo, e deixei que a vida me levasse onde ela queria. Segui o mesmo caminho ou dei dois passos para a lateral, não saberei dizer. E sabe o que eu ganhei? Bem, eu achei um dos meus amores platônicos por ai, ganhei um puta abraço e um mega elogio, fiz amizade de verdade com aquele garoto estupidamente bonito que eu nunca pensei que eu teria coragem de dizer oi eque agora senta do meu lado e divide doce comigo perguntando como foi o meu dia. Eu esqueci dessa beleza.

Esqueci dessa beleza porque deixei-me criar raízes na Zona do Conforto onde um talvez, cancelamos o cinema ou está chovendo lá fora só me fazia ficar presa nela. Esqueci que estudar Francês pode ser muito divertido e só me recordo disso quando estou nas aulas. Esqueci que há tanta beleza em coisas minimas e que um pequeno detalhe faz toda a diferença. Putz! Tá na hora de literalmente fazer a cama e esperar dar 18h não pra ir pra casa descansar, mas pra arrumar aquele bendito guarda-roupa e poder finalmente comprar um sapato novo.

Saio debaixo da coberta, estico as pernas e vou em busca do sol. Se eu demorar a comentar algo nesse post não se espante, estou pegando sol lá fora ou dançando Matsuri com os amigos, ou seja, sai da Zona de Conforto e já me sinto preparada pra encarar as consequências que virão...

PS: texto dedicado ao meu amigo Henrique. Se ajuda alguma coisa, aparece na minha casa na segunda? Já terei resolvido o nosso dilema...

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Por que gosto da nossa história complicada?





PS: Texto de não autoria da dona do blog, publicado como anônimo. Todos os direitos reservados.

Não gosto de várias coisas. Uma delas são os meus textos pessoais.

Fico com a impressão de que quando coloco meu coração no teclado e começo  a digitar freneticamente, as orações perdem a abrangência que eu buscava, para que então um único foco tome conta de todos os parágrafos: eu e minhas histórias, tão complicadas quanto um cubo de Rubik. Começo a escrever influenciado pelo puro desejo de exteriorizar o que estou sentindo e sinto derramar-me sobre o texto,  apoderando-me e tomando conta dele, do prólogo ao epílogo, como a água que derramamos aos poucos e vemos espalhar-se pela superfície, irrefreável.

Não gosto de ser o foco, quando eu mesmo sou o observador. Quando o meu ponto de vista é o único a analisar toda a situação, há uma tendência em ser severamente crítico com relação às minhas próprias atitudes. Também não gosto das minhas histórias complicadas.

E você é a maior delas, sinto informar-lhe e informar a mim mesmo. É complicado te ver sem que as cenas da nossa história complicada invadam a minha mente e eu vividamente relembre tudo o que aconteceu, desde aquele maldito 6 de fevereiro quando aceitei ver aquele filme com você, sem a menor pretenção de abrir as portas da minha vida para o seu sorriso bobo e os terríveis olhos de ressaca. Poderia dizer que me arrependo, se fosse julgar por todas as reviravoltas que nosso perigoso amor estava destino a enfrentar. Não me pergunte o porquê, até hoje ainda não entendo o que eu pensava quando nós estávamos juntos, mas aquela sensação de risco calculado não me deixava em paz, e constantemente achava que o dia em que nos beijamos pela primeira vez foi o dia em que eu comecei a patinar em gelo fino, sem saber se a mão que patinava ao meu lado era firme o suficiente para nos segurar, caso o gelo rachasse.

Fico curioso em saber quando aconteceu. Tudo pareceu tão rápido, tão de repente que não tive tempo hábil de perceber e perguntar-me se era assim mesmo que as coisas deveriam ser. A única coisa que tive tempo de fazer, quando a realidade estapeou a minha cara, foi olhar ao meu redor e temer o fato de que meu mundo já não seria o mesmo sem você nele. E esse temor não passou nunca, desde então. Cada dia da nossa vida juntos me parecia uma vitória e eu celebrava isso intimamente, porque pensava que a qualquer instante, na velocidade da batida das asas de um beija-flor, eu estaria por minha própria conta de novo. Se o certo é cuidar do jardim para que as borboletas cheguem, eu tinha a nítida certeza de que você era a borboleta mais arisca e não havia flor que fizesse você preso a mim. Não tanto quanto eu era preso a você. Me envergonho ao lembrar dessas coisas, se quer saber a verdade. Aos olhos de qualquer cidadão sensato, era possível ver que era eu quem precisava de ti, e não o inverso, para meu infortúnio.

Mas o tempo foi passando, como é de sua bondosa natureza. E aos poucos eu fui mergulhando em você, mergulhando na nossa paixão que causava inveja a quem estava à nossa volta. E a cada centímetro no qual eu me afundava, esquecia-me de voltar para respirar e me lembrar de que aquilo podia acabar a qualquer hora. Eu me esqueci disso, e paguei um preço alto. Você se tornou a minha rotina. Mas não daquelas rotinas cansativas, você era a rotina que eu gostava de ter, aquela que dava sentido a cada coisa imbecil que eu fazia no meu dia. Pensar em você era tão natural quanto respirar e eu me acostumei com o enorme espaço que tão incovenientemente ocupara na minha vida, sem ao menos ponderar se eu queria. Porém, você não precisava ponderar. Eu facilitei tanto para nós dois que abriste caminho no meu dia-a-dia sem fazer grande esforço. Saber que era o seu cheiro que eu ia sentir, que era o seu sorriso que eu ia ver e era a sua voz que eu ia ouvir quando chegasse o fim de semana, me deixava mais calmo, quando meus dias eram meio turbulentos. Torná-lo um hábito foi um erro tão brutal que eu tenho medo de todas as pessoas que começam a se fazer presentes demais para mim.

Estremeci quando você deixou aquela roupa sua no meu quarto. Tomei um susto ao perceber que você tinha ido embora lá de casa com uma camiseta minha. Foi então que eu notei que eu já não tinha distinção de quando terminava o meu espaço e começava o seu. Nós dois éramos tão únicos que para mim só exista a circunferência da bolha que nos envolvia. Os perfumes se misturavam e a junção deles formava o nosso cheiro, mais uma das marcantes características daquele casal incomum que se tornara inseparável. Eram muitas manias, muitas piadas, muitos detalhes que escapavam aos olhos de todos.

Eu só tinha amado uma vez, antes de você. Não tinha muita certeza de que era amor verdadeiro, da mesma forma como hoje não tenho certeza quanto à veracidade do nosso. Ainda assim arrisquei aquele “eu te amo” tímido, dito no silêncio da minha cama, que era até então o nosso santuário inviolável, onde todas as verdades eram contadas sem pudor. Pode ser que eu estivesse inebriado pela ideia de amar, mas naquele momento me pareceu sincero o suficiente. Você não respondeu na hora, para consolidar toda a insegurança que eu sentia desde o dia em que eu fiz o pedido de namoro.

E um dia, depois de várias mentiras, depois de vários beijos indevidos, depois de várias histórias colaterais, você resolveu dissolver nosso mundo (àquela altura dos acontecimentos, claramente mais meu do que seu). Como eu tinha me esquecido de como era sem você, foi difícil e doloroso substituir o seu espaço. Vários candidatos apareceram, muitos deles imensamente melhores, e ainda assim, você tinha marcado o seu lugar de maneira que, tão cedo, eu não conseguiria ocupá-lo.

Hoje em dia não existe mais você. Ainda que apareça algumas vezes na minha memória ou na minha frente, delicadamente fiz com que se afastasse. Arrumei um jeito artificial de apagar a sua existência e, até o momento, ele tem funcionado bem. O amor morreu, a paixão, e tudo o mais que foi abruptamente arrebentado na nossa história complicada. Não te esqueci, mas só pelo fato de que não existe uma maneira de não se lembrar de alguém. Mas esqueci o que é sentir por você, aquilo que outrora eu tinha sentido com todo o meu ser. O que existe hoje são só os cacos de uma história que, dadas as circunstâncias, nem temos como dizer se foi de amor, ou de qualquer outra coisa frágil demais para ser definida.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Coisas do Templo



Continuação de: "Pacote de Viagem sobre encomenda..."

Eu morava em Brasília, mas não sabia andar por Brasília. Não nasci aqui, nem lembro onde nasci, mas gostava dessa cidade, mas não sabia andar nela. Minha pouca vida social era direcionada a dar aulas de Filosofia na UnB tentando fazer os alunos chapados aprenderem alguma coisa. Tentar evitar que eu ficasse chapado por respirar o mesmo ar que eles era a meta dos meus dias. Era nessas coisas que eu pensava enquanto olhava para o Templo Budista de Brasília e ficava pensando como nunca tinha vindo aqui. Sempre recusava os convites dos meus alunos, ou das minhas alunas e agora me via aqui olhando pessoas tão distintas espalhadas.

Algumas delas conversavam na fila da comida, outras passam olhando tudo com cuidado e os mais jovens andavam despreocupados, rindo e acenando para os amigos que viam ali. Parecia que sempre marcavam de se encontrarem ali, como aquelas pessoas que fazem amizade de tanto verem uns aos outros nas mesmas festas. E ali estava minha pessoa, totalmente perdido não sabendo onde me encaixar no meio daquelas pessoas. Pensei em meditar um pouco, mas era ateu e me sentia estranho ali. Continuei andando por lá, vendo o centro de pessoas que dançavam algo chamado Matsuri ou riam por nada, concentrei-me na fila de comida a minha frente que estava gigantesca enquanto me arrependia de ter vindo pra cá por causa de uma citação no Facebook.

"E hoje tem Templo Budista, vamos animar galera". E a citação de umas 84654 pessoas e o nome dela incluso.

Aquela garota da agência de viagens que compartilhou comigo um café, as historias da viagem dela, uma aceitação no Facebook e alguns comentários em posts meus havia feito eu querer conhecer o Templo Budista, e conhecer o mundo dela. E havia mais, sempre o olhar as fotos e se perder na cor intensa dos olhos verdes, ou ficar com ciume vendo as marcações de alguns garotos que pareciam conhecê-la tão bem, e eu nada. Ela havia me passado seu numero, eu havia ligado apenas uma vez e agora estava aqui rezando as forças científicas para vê-la novamente e poder compartilhar alguma coisa.

- Logan? - a voz dela me fez virar e vê-la ali parada na minha frente, usando um short de cintura alta, uma blusa escrita ZAP, uma sapatilha nos pés e um lenço pin up na cabeça. Ela estava linda. - Logan? - ela falou mudando o tom de surpresa para alegria, mas mantendo a pergunta.

- Oi, Dani. - eu falei olhando para o lado. Ela estava fora da fila com uns amigos, rindo e se divertindo enquanto eu estava todo sério com um prato de camarão na mão.

- Bem, vamos para o gramado. Não fuja da gente, Dani! - um dos amigos dela falou e arrastou a galera dela.

- Eles foram embora por minha causa? - eu perguntei quando nos sentamos no gramado atrás do templo, depois que ela me fez companhia comendo camarão empanado.

- Nope. - ela falou distraída. - A gente sempre vai pro gramado se reunir aqui. É aqui onde acontece as melhores e as piores coisas do Templo, é meio que uma tradição.

- Porque acontece as piores coisas? - eu perguntei erguendo meu óculos e observando as pessoas fazendo de tudo: se pegando, bebendo, tocando violão, dançando, correndo, dançando, rindo loucamente. Eles parecia tão livres...

- Isso depende do ponto de vista, isso é divertido de alguma forma? Outros não gostam. Digamos que no templo você vive tudo muito rápido, e sofre devagar demais. - ela falou séria de repente.

- Você está falando como se tivesse se apaixonado no Templo e não tivesse dado certo. - eu falei tentando descontrair o clima tenso.

- E foi. - ela falou olhando para um garoto sentado no chão ali na numa roda de pessoas logo na frente. Ele não tinha nada demais: era um pouco baixo, cabelos lisos e curtos, olhos normais e um pouco magrelo. Ela segurou a mão uma na outra ao observar ele, e quando ele olhou pra ela, foi a cena mais estranha e curta da minha vida. Ele sorria, depois fechou a cara e mudou de feição. Os amigos dele acenaram para ela, mas ele continuou fingindo que não a via. Isso doeu nela, eu percebi pela forma que ela mudou o olhar, como se encolheu e como rapidamente se levantou e saiu de perto dele.

- Você ainda gosta dele, né? - eu perguntei olhando pra ela. Ela havia andado firmemente até o prédio mais próximo  onde se sentou e ficou olhando para o além.

- Alguém tem fogo? - um garoto perguntou olhando pra gente.

- Não. - eu falei sem olhar pra ele. Dani tirou do bolso um isqueiro e emprestou para o garoto, que agradeceu e deu um sorriso pra ela, como se memorizasse o rosto da garota que poderia emprestar fogo pra ele de novo. Ou algo mais...

- Não. - ela respondeu depois que o garoto saiu de lá.

- Não o que? - eu perguntei confuso.

- Eu não gosto mais dele. Eu pensava que gostava, mas não. Eu vi ele Templo passado, no caso no outro fds e havia doido de alguma forma. Então hoje, quando eu o vi, pensei que ia doer que nem da outra vez, até me encolhi já preparada para sentir um pouco de dor, mas não ouve nada. Esquisito não? - ela falou relaxando e rindo. Sentou-se de forma a colocar a cabeça dela na minha perna e ficou balançando a perna. - Nunca pensei em te ver por aqui...

- Se eu falar que vim pra cá pra ter ver, você vai pensar que eu sou doido? - eu falei do nada. Ela levantou o olhar pra mim e sorriu.

- Não! - ela falou rindo! - São coisas do Templo.

- Todo mundo fala que são coisas do Templo. Você poderia me dar um exemplo de coisas que acontecem nesse lugar? - eu falei olhando para um casal de garotos que se beijava publicamente, mas havia tanta doçura naquele beijo que não comentei nada...

- Hey Logan. - Dani me chamou. - Olha um bom exemplo.

E então ela me beijou, com a mesma doçura e intensidade que um beijo pode ter, e saiu para onde estava seus amigos onde ria, dançava e se divertia. Eu fiquei ali deitado, olhando para o céu escuro, não reconhecendo nada das musicas que tocavam a minha volta, não me importando com o cheiro de maconha ou apenas cigarro. Eu havia sido beijado e definitivamente estava apaixonado...

Continua.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Antes de ir embora, diga ao menos adeus...


Eu deveria fumar um cigarro, foi a primeira coisa que pensei quando recebi noticias suas. E como sempre elas não eram as que eu esperava. Na verdade, nunca soube o que esperar quando o assunto era você. Não depois que nos separarmos.

Fumo meu terceiro cigarro sem culpa, escondido num beco vagabundo enquanto olho as pessoas a minha volta andando apressadas na sua hora do almoço. Minha mãe havia ligado perguntando se eu queria biscoito Passatempo, pois ela iria fazer compras. Disse que preferia Trakinas. Ela não entendeu minha piada.

Sabe, fumando esse cigarro na hora do almoço enquanto eu deveria estar trocando olhares com os novatos da empresa eu só penso numa coisa: você. Talvez tenha começado esse vício porque você fumava, ou apenas não achei algo mais barato na banca para me distrair. Mas no fundo, não faz diferença.

Jogo a fumaça para o auto pensando em quantas vezes passei a noite pensando que você voltaria a minha casa pra buscar suas coisas. Pra terminar o que um dia começamos. Poderia chover muito e eu teria que tirar sua roupa e te aquecer, ou podeira estar fazendo um sol tão grande que engoliria minha visão e meus sentimentos. Puxa, você poderia ter tirado aquela hora de folga na quarta pra buscar suas coisas lá em casa. Saberia muito bem que minha mãe não estaria lá e que qualquer coisa você pulava o muro do quintal para o beco vazio como fizemos muitas vezes para nos ver.

Sinto saudades disso. De pular o muro, de brigar com você por fumar e de ter você ao meu lado. Mas agora não tenho certeza. Outro dia me vi telefonando para a fiscalização sanitária denunciando o muro atrás da minha casa, quando percebi o que estava fazendo desliguei o telefone e deixei que o constrangimento me cercasse. Estava mesmo tentando te esquecer.

Volto para o escritório com um sorriso amarelo não por causa do cigarro, mas lembrando que vou ter que tirar algumas moedas do meu cofre para a tatuagem para apagar os vestígios do cheiro de fumaça e cigarro. Gastei bem mais tentando te apagar da minha vida.

Há tão pouco ali, tanto no cofre como no espaço que era seu que me pego perguntando se terei mesmo coragem de fazer essa tatuagem ou de esvaziar o lugar que era seu e preencher com outra coisa. Comprei mais um livro que não vou ler tão cedo, um CD que não iria comprar mas que não paro de ouvir. Tornei-me uma controvérsia tão grande que não sei quem sou mais.

Meus amigos falam que eu mudei, levei um murro outro dia por querer aproveitar a vida. Levaria dois da minha mãe por ter pulado a merda daquele muro pra te ver andando de skate novamente na rua de baixo. E no final das contas, fico nesse impasse de te ligar e dizer tudo o que sinto.

Não direi que te amo, pode ficar magoada com isso. Mas nesse momento, meu ego está maior que minhas lágrimas. Não é culpa sua, se não terminou como eu queria. E sabe como eu queria que tivesse terminado? Não, não é com você em meus braços, mas talvez com um simples e singelo adeus.

Você deveria ter saído da minha vida, nisso todos concordam, mas deveria ter dito adeus. Não até logo como ficou pairando no ar desde que trocou a ultima sms comigo e sumiu desde então, me evitando por motivos tão infantis que em vejo num relacionamento com uma criança de 12 anos, com maturidade de 9. Decepcionante. Sabe o que doí? Além desse não 'adeus'? A minha sinceridade, e o que deveria ter sido nossa sinceridade.

Começamos como? Sabendo que não poderia dar nada? Uma experiencia por curiosidade? Ou apenas para ocupar nosso tempo. Numa troca saliente de sms ou conversas pelo Face, numa jogatina de palavras dúbias. Agora não sei. Mas havia a sinceridade de saber que não iria para a frente, e que seriamos sinceros com o fim.

Agora me escondo no arquivo desse emprego estupido que arrumei para poder ocupar minha mente, para meus pais me deixarem em paz, para ter dinheiro e para esquecer você de vez. Quatro motivos banais e nenhum deles parece me animar nessas manhãs de Agosto frio onde tenho que ir trabalhar.

Engraçado que em Agosto passado eu brigava por você, bêbado num mercado qualquer, meses depois eu me encantava por uma outra você na rua ou na porta da escola. Nunca saberei a diferença. E você (duplicada ou não) não me disse adeus.Custava muito? Acho que não.

Custava ter batido na minha porta decidida ou envergonhada, com pressa ou sem medo de entrar e sentar no sofá. Você pediria suas coisa de volta, talvez eu tivesse separado algumas, outras você exigiria em levar contigo, umas não seriam nem minhas nem suas e no fim riríamos por não sabermos mais o que é meu e o que é seu. Ficaria aquele constrangimento no ar, interrompido pela minha mãe que entraria com dois copos de café e pão de queijo afirmando ser hora do lanche, embora no fundo tivesse apenas medo de nos ver atracados na cama dela.

Acho que o adeus doeria em você, por alguns desses motivos. Talvez você ainda achasse que eu era a unica salvação que você tinha nessa vida de descobertas sem fim, ou eu seria apenas a pessoa do ombro amigo que te colocaria no colo enquanto pensava em outra pessoa. Não sei. Juro que não sei...

Mas enquanto sacolejo dentro de um ônibus lotado pronto pra voltar pra casa, percebo que o adeus doeria mais em mim. Amargaria meu café por semanas que pareceriam sem fim, me faria brigar com meus pais, largar a igreja, questionar a minha sanidade, a fidelidade dos meus amigos e me faria querer fazer a mala para bem longe de você. Custava dizer adeus? Claro que custava. Custava tanto que até agora você não disse...

Desço na parada de casa, passo na padaria e compro um Trident para apagar os vestígios de cigarro na minha boca. Quanto custa uma borracha? Cinquenta centavos? Não sei. Meu novo vício custa alguns minutos roubados na hora do almoço, os cuidados para não deixar cheiro na roupa, a acelerada no coração caso minha mãe descubra que fumo. Não sei de muita coisa, e das poucas que sei apenas digo que você ter dito adeus doeria bem menos, custaria bem menos.

Mesmo assim, não custa nada tentar. Apago o pitoco de cigarro, querendo apagar essa sempre velha historia.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Amados Capitães


Que me perdoem os fãs de Gabriela e sua pipa, de Tieta e suas aventuras no agreste, de Dona Flor e seus dois amores ou da morte de Quincas. Não li todos os livros de Jorge Amado e talvez nunca venha a ler. Mas digo aqui com orgulho que sou fã de Pedro, Dora, Gato e seus amigos. Li Capitães de Areia muito nova ainda, deveria ter uns 13 anos na época e ainda me lembro da cara da bibliotecária me dizendo carinhosamente que eu deveria voltar a olhar a sessão de Narizinho e seus amigos, não aceitei seu conselho e voltei pra casa com o livro nos braços.

A leitura era um pouco complicada para meu pouco vocabulário na época, mas a sensação de leitura me agradava tanto que eu não queria parar. Fui assim inserida no trapiche e nas ruas da Bahia onde esses garotos de rua, pequenos ladrões e homens de alma já viviam suas aventuras. Imaginei-me na Bahia pelos olhos dele, onde tudo era diversão, onde o areal era lindo e as negrinhas eram bonitas. Onde a água do mar era linda e o céu era um convite a ficar amando aquelas terras.

Depois desse livro nunca mais um carrossel foi o mesmo pra mim, assim como toda vez que vejo algo de cangaceiro lembro de Volta Seca, assim como a reza de Pirulito pra mim vai ser sempre a mais bonita e honesta, e assim Gato e Professor me ensinaram ginga e paixão pelos livros. E acima de tudo Pedro Bala me ensinou a ser um chefe decente e correto, embora eu nunca chegue a ter um grupo de ladrões já homens para comandar. Aprendi a amar e ser uma boa mãe com Dora, e assim também mantive em segredo minha vontade de cuidar de Sem-Pernas.

Anos depois, já no ensino médio minha turma da escola teve que fazer um trabalho com o tema de Jorge Amado, recordo-me de rapidamente indicar Capitães da Areia para a peça de teatro, ficando responsável pelo roteiro e ensaiar os atores. Aquela sensação de ser um Capitão de Areia, nem que seja por 15 minutos me dominou de felicidade e quando vesti minha roupa em frangalhos pude sentir-me estupidamente livre e feliz. A peça não foi das melhores, mas eu era livre naquele palco como aqueles garotos eram no livro, não havia um areal na minha frente ou o calor da Bahia, mas havia uma chama tão grande e acolhedora no meu coração que em fez amar esse livro desde o primeiro momento em que o li.

E no fim do livro, quando eu percebi que meus amados Capitães seguiam seus destinos, tristes ou felizes eu chorava de orgulho e dor. Dor por saber que a vida deles foi e era sofrida, e talvez continuasse até muito depois embora isso nunca chegasse a ser narrado no livro, mas havia o orgulho. O orgulho de ver que eles se tornaram homens melhores que muitas pessoas por ai nesse mundo e que eles serão um daqueles heróis que temos e poucas pessoas entendem. Talvez muito de vocês não compreendam o que pequenos ladrões podem fazer na vida de uma garota como eu, mas mesmo assim eu gostaria de agradecer a Jorge Amado por esse livro, sem ele eu não teria orgulho de dizer que tenho heróis brasileiros como referencia. Obrigada meu Jorge e com certeza Amado.

Segue abaixo Trecho do Livro “Capitães da Areia”
"No começo da noite caiu uma carga de água. Também as nuvens pretas logo depois desapareceram do céu e as estrelas brilhavam,brilhou também a lua cheia. Pela madrugada dos Capitães da Areia vieram. O Sem-Pernas botou o motor para trabalhar. E eles esqueceram que não eram iguais às demais crianças, esqueceram que não tinham lar, nem pai,nem mãe, que viviam de furto como homens, que eram temidos na cidade como ladrões. Esqueceram as palavras da velha de lorgnon. Esqueceram tudo e foram iguais a todas as crianças, cavalgando os ginetes do carrossel, girando com as luzes. As estrelas brilhavam,brilhava a lua cheia. Mas, mais que tudo, brilhavam na noite da Bahia as luzes azuis,verdes,amarelas,roxas,vermelhas, do Grande Carrossel Japonês."

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Pacote de viagem sobre encomenda




Cheguei à agencia de turismo com uma idéia completa do que queria para minhas férias do meio do ano. E não adiantava nada do que a mulher me dissesse, eu teria uma resposta convincente para aquela ladainha dela de vendedora de viagens.

- Procuro uma viagem em que eu possa me divertir e me distrair, estou precisando de férias. Mas estou sem muito dinheiro ou tempo, então eu quero algo assim: ser mochileiro (levar pouca coisa na ida) e quem sabe voltar com algo novo e legal. Ter uma lista de indicações de lugar pra dormir porque posso passar a noite numa cidade e amanhecer em outra, ou algo do tipo. Acho que a Europa é legal, posso conhecer vários países pegando um trem ou outro transporte barato  também não vou precisar de livros porque vou ficar vendo as lindas paisagens pela janela. - pausa pra refletir. - Também prefiro calor, não me dou muito bem com o frio das cidades ou do coração das pessoas. Então, no resumo é isso, o que tenho para junho ou julho?

Nem um elogio da mulher por ter feito minha escolha antes eu recebi e isso em incomodou. Tentei esquecer esse detalhe.

- Então, Sr Logan... - ela começou, mas logo a cortei dizendo que o Sr estava no céu embora eu fosse ateu. Não, eu não comentei a parada de ser ateu com ela. - O Sr é um pronome de tratamento que utilizamos quando não temos muito contato com a pessoa, mesmo assim Logan acho que encontrei o pacote de férias para o senhor perfeito.

Ela abriu o plano de viagem na minha frente me mostrando todas as probabilidades que eu teria de encaixar meus planos de diversão naquela viagem e sem muita demora eu comprei o kit. Dentro de 15 dias eu estaria viajando para meus 15 dias de diversão que seriam perfeitos.

Um mês depois eu estava voltando lá com uma lista de reclamações para aquela atendente vagabunda: minha viagem tinha sido uma merda.

- EU QUERO FAZER UMA RECLAMAÇÃO! - eu falei entrando na sala onde minha atendente me olhou com espanto depois que interrompi sua gargalhada.

- Sr Logan. Entre. - ela falou sorrindo para a garota que estava na cadeira da frente dela com uma mochila aos seus pés e uma copo de café gigantesco, me ofereceu uma cadeira e abriu seu livro de reclamações e sem esperar eu comecei meu discurso.

- AQUELA VIAGEM FOI UMA MERDA! - eu gritei e contei triste a viagem para a Europa onde incluiu um albergue que não me aceitou, um hotel de quinta categoria, uma viagem de trem no dia que mais choveu na Europa e não pude ver nada das paisagens e até inclui minha frustração de não poder ver o show que eu queria ir e não consegui.

- Certo. - ela falou. - Mas o senhor vai ter que esperar um pouco, temos outra pessoa para que chegou mais cedo e também veio reclamar.

Eu virei minha atenção para a garota que usava apenas uma blusa branca social dobrada de forma elegante, um calça jeans e uma sapatilha nos pés. O cabelo preso num coque folgado e na cabeça um lenço como as pin up's de antigamente. Ela era linda.

- Bem, eu vim dizer que também não fui aceita no albergue e que isso deveria me garantir um reembolso, mas embora eu tenha tido uma viagem tão ruim como a do Sr. Logan aqui do meu lado, eu não tenho muito do que reclamar. - ela falou tomando um gole de café.

- Não venha me dizer que você comprou o mesmo pacote de viagens que eu e ainda se divertiu no tanto de azar que tivemos... - eu falei ironicamente.

- Sim. - ela falou calma.

- Posso saber como? - eu falei me virando pra ela e encarando-a de forma séria.

- O albergue também não me aceitou, mas em vez de ficar reclamando com eles e gritando que nem uma louca no saguão, eu perguntei se eles conheciam a filial dessa agência de viagens no país deles, ou onde ficava a Embaixada do meu país. Além dessas informações, ganhei uma indicação de um senhor muito calmo e idoso que falou de uma pousada barata e aconchegante mais para os limites da cidade. - ela falou me olhando. - Me perdi pela cidade, cheguei atrasada no show e não consegui entrar, mas em vez de chorar eu fiquei olhando para um outro grupo de fãs que não acharam ingressos até que eles me acolheram na roda de violão deles e a noite acabou num pub barato com karaokê duvidoso. No dia que peguei o trem chovia muito, mas isso me fez andar por ele e descobrir além de pessoas tão diferentes, o trem tinha um biblioteca pequena com livros de todos os lugares do mundo, até um livro em português. Sentei-me na poltrona e sorridente acolhi o chá que me serviram e os barulhos da chuva que me acalmavam quando me dedicava a leitura. Uma viagem que definitivamente não estava como eu queria, mas mesmo assim foi excelente.

- O que você queria que eu fizesse? - eu falei emburrado. - Que eu entregasse minha vida ao acaso e a um bando de desconhecidos e esperassem que eles salvassem minhas férias? Não seja imatura.

- E ficar de mal humor por causa que não conseguiu seguir metade dos seus planos por forças maiores é o que? Senso de responsabilidade? Acho que não. - ela respondeu dando de ombros.

- Não posso colocar minha vida na mão de forças misteriosas que não acredito. - falei depois de alguns segundos de silêncio.

- Você acha que coloquei a minha vida na mão de forças misteriosas? - ela falou me olhando. - Não penso desse jeito. Eu penso que coloquei as minhas frustrações de lado e tentei encarar o que a vida tinha de bom naquela oportunidade. Se você tivesse parado cinco minutos de gritar e tivesse olhado para além dos seus problemas perceberia que no mural atrás do informante do balcão havia vários anúncios de hotéis alternativos. - ela comentou ao terminar seu café.

- Mas você perdeu o show que queria ir! Não tem como reverter isso. - eu falei quando ela estava se levantando e indo embora.

- Eu perdi um show na Europa, mas ganhei amigos novos e que me divertiram porque também haviam perdido um show. E o que você ganhou além de brigar com as pessoas a sua volta? Nada. - ela falou assinando o livro de reclamações e se retirando da sala.

- O que foi isso? - eu perguntei olhando pra atendente que estava sorrindo indiferente a mim.

- Isso foi uma lição de vida, Sr. Logan. Quantas vezes o senhor vai poder viajar e falar assim: eu me perdi, tive uma viagem que era pra ser horrível, mas consegui tirar algum proveito disso? Poucas. Me desculpa a sinceridade, mas o senhor com um pouco mais de quarenta anos deveria estar dando lições de vida a garota de vinte e poucos anos que estava a sua frente, e não o contrário.

Eu sai de lá cerca de uma hora depois, já que como procedimento eu tinha que relatar tudo que tinha pra reclamar em detalhes, o que me deixou afundado numa cadeira. E no final das contas, apenas a parte do albergue era culpa da agência, o resto foi apenas desventuras em séries. Quando sai de lá eu fiquei olhando pra lanchonete à minha frente até entender o que estava focalizando: a garota da agência de viagens. Sem pensar duas vezes eu atravessei a rua pronto pra seguir aquela garota. Quem sabe ela me ensinaria a fazer um "pacote de viagem sobre encomenda" perfeito? Foi nisso que eu estava pensando quando toquei no braço dela, só não sabia que seria naquele par de olhos verdes escuros que iria encontrar uma real razão para amar...

Continua...