quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Antes de ir embora, diga ao menos adeus...


Eu deveria fumar um cigarro, foi a primeira coisa que pensei quando recebi noticias suas. E como sempre elas não eram as que eu esperava. Na verdade, nunca soube o que esperar quando o assunto era você. Não depois que nos separarmos.

Fumo meu terceiro cigarro sem culpa, escondido num beco vagabundo enquanto olho as pessoas a minha volta andando apressadas na sua hora do almoço. Minha mãe havia ligado perguntando se eu queria biscoito Passatempo, pois ela iria fazer compras. Disse que preferia Trakinas. Ela não entendeu minha piada.

Sabe, fumando esse cigarro na hora do almoço enquanto eu deveria estar trocando olhares com os novatos da empresa eu só penso numa coisa: você. Talvez tenha começado esse vício porque você fumava, ou apenas não achei algo mais barato na banca para me distrair. Mas no fundo, não faz diferença.

Jogo a fumaça para o auto pensando em quantas vezes passei a noite pensando que você voltaria a minha casa pra buscar suas coisas. Pra terminar o que um dia começamos. Poderia chover muito e eu teria que tirar sua roupa e te aquecer, ou podeira estar fazendo um sol tão grande que engoliria minha visão e meus sentimentos. Puxa, você poderia ter tirado aquela hora de folga na quarta pra buscar suas coisas lá em casa. Saberia muito bem que minha mãe não estaria lá e que qualquer coisa você pulava o muro do quintal para o beco vazio como fizemos muitas vezes para nos ver.

Sinto saudades disso. De pular o muro, de brigar com você por fumar e de ter você ao meu lado. Mas agora não tenho certeza. Outro dia me vi telefonando para a fiscalização sanitária denunciando o muro atrás da minha casa, quando percebi o que estava fazendo desliguei o telefone e deixei que o constrangimento me cercasse. Estava mesmo tentando te esquecer.

Volto para o escritório com um sorriso amarelo não por causa do cigarro, mas lembrando que vou ter que tirar algumas moedas do meu cofre para a tatuagem para apagar os vestígios do cheiro de fumaça e cigarro. Gastei bem mais tentando te apagar da minha vida.

Há tão pouco ali, tanto no cofre como no espaço que era seu que me pego perguntando se terei mesmo coragem de fazer essa tatuagem ou de esvaziar o lugar que era seu e preencher com outra coisa. Comprei mais um livro que não vou ler tão cedo, um CD que não iria comprar mas que não paro de ouvir. Tornei-me uma controvérsia tão grande que não sei quem sou mais.

Meus amigos falam que eu mudei, levei um murro outro dia por querer aproveitar a vida. Levaria dois da minha mãe por ter pulado a merda daquele muro pra te ver andando de skate novamente na rua de baixo. E no final das contas, fico nesse impasse de te ligar e dizer tudo o que sinto.

Não direi que te amo, pode ficar magoada com isso. Mas nesse momento, meu ego está maior que minhas lágrimas. Não é culpa sua, se não terminou como eu queria. E sabe como eu queria que tivesse terminado? Não, não é com você em meus braços, mas talvez com um simples e singelo adeus.

Você deveria ter saído da minha vida, nisso todos concordam, mas deveria ter dito adeus. Não até logo como ficou pairando no ar desde que trocou a ultima sms comigo e sumiu desde então, me evitando por motivos tão infantis que em vejo num relacionamento com uma criança de 12 anos, com maturidade de 9. Decepcionante. Sabe o que doí? Além desse não 'adeus'? A minha sinceridade, e o que deveria ter sido nossa sinceridade.

Começamos como? Sabendo que não poderia dar nada? Uma experiencia por curiosidade? Ou apenas para ocupar nosso tempo. Numa troca saliente de sms ou conversas pelo Face, numa jogatina de palavras dúbias. Agora não sei. Mas havia a sinceridade de saber que não iria para a frente, e que seriamos sinceros com o fim.

Agora me escondo no arquivo desse emprego estupido que arrumei para poder ocupar minha mente, para meus pais me deixarem em paz, para ter dinheiro e para esquecer você de vez. Quatro motivos banais e nenhum deles parece me animar nessas manhãs de Agosto frio onde tenho que ir trabalhar.

Engraçado que em Agosto passado eu brigava por você, bêbado num mercado qualquer, meses depois eu me encantava por uma outra você na rua ou na porta da escola. Nunca saberei a diferença. E você (duplicada ou não) não me disse adeus.Custava muito? Acho que não.

Custava ter batido na minha porta decidida ou envergonhada, com pressa ou sem medo de entrar e sentar no sofá. Você pediria suas coisa de volta, talvez eu tivesse separado algumas, outras você exigiria em levar contigo, umas não seriam nem minhas nem suas e no fim riríamos por não sabermos mais o que é meu e o que é seu. Ficaria aquele constrangimento no ar, interrompido pela minha mãe que entraria com dois copos de café e pão de queijo afirmando ser hora do lanche, embora no fundo tivesse apenas medo de nos ver atracados na cama dela.

Acho que o adeus doeria em você, por alguns desses motivos. Talvez você ainda achasse que eu era a unica salvação que você tinha nessa vida de descobertas sem fim, ou eu seria apenas a pessoa do ombro amigo que te colocaria no colo enquanto pensava em outra pessoa. Não sei. Juro que não sei...

Mas enquanto sacolejo dentro de um ônibus lotado pronto pra voltar pra casa, percebo que o adeus doeria mais em mim. Amargaria meu café por semanas que pareceriam sem fim, me faria brigar com meus pais, largar a igreja, questionar a minha sanidade, a fidelidade dos meus amigos e me faria querer fazer a mala para bem longe de você. Custava dizer adeus? Claro que custava. Custava tanto que até agora você não disse...

Desço na parada de casa, passo na padaria e compro um Trident para apagar os vestígios de cigarro na minha boca. Quanto custa uma borracha? Cinquenta centavos? Não sei. Meu novo vício custa alguns minutos roubados na hora do almoço, os cuidados para não deixar cheiro na roupa, a acelerada no coração caso minha mãe descubra que fumo. Não sei de muita coisa, e das poucas que sei apenas digo que você ter dito adeus doeria bem menos, custaria bem menos.

Mesmo assim, não custa nada tentar. Apago o pitoco de cigarro, querendo apagar essa sempre velha historia.

2 comentários:

  1. Gostei Márcia, vou recomendar pra galera que conheço. Beijos. J.Love

    ResponderExcluir
  2. Eu achei esse texto simplesmente fantástico. Terminei de lê-lo com a boca aberta, um lado por admiração e outro pela surpresa de como ele conseguiu ser bom. E vou te contar, faz tempo que eu não leio um texto FODA. E o seu, minha cara marshmallow, ficou exatamente assim.

    ResponderExcluir