terça-feira, 12 de junho de 2012

Um conto de Dia dos Namorados



Eu não consegui abrir meus olhos, a sensação de calor na minha pele me acompanhou por muito tempo, me aquecendo e me deixando feliz. Eu estava nas nuvens e não me importava...

- Acorda, seu lombrado! - o tapa que meu amigo Carlos me deu perto do ouvido ficou zumbindo no meu ouvido por alguns segundos, mas eu não ligava eu ainda tinha aquele sol me aquecendo. Até que ele foi embora e eu acordei de onde quer que eu estivesse. - Baseado foi bom, né?

- Foi. - eu respondi seco tentando entender como eu tinha saído do parque onde estávamos todos reunidos e agora estava numa praça de alimentação observando o prato de batatas com queijo cheddar a minha frente: eu tinha fome.

Sem esperar por mais, eu as ataquei. Eu ignorei o olhar feio do meu amigo Carlos que me dizia que eu estava fumando maconha demais e passando mais tempo longe do que no mundo da realidade e apenas me concentrei em comer  aquelas batatas fritas. Mas o que me incomodava além do fato de eu estar por fora do assunto principal, era aquela sensação de sol.

- Há quanto tempo estamos nessa praça de alimentação? - eu perguntei.

Depois da risada constante dos meus amigos, obtive resposta de Guty, minha ficante não oficial.

- Há umas duas horas, eu acho. Lombra boa, hein? - ela falou piscando pra mim do outro lado da mesa antes de voltar sua atenção pra conversa.

Eu sorri de volta, mas era um sorriso fraco. Sinceramente, eu odiava o Dia dos Namorados, não que eu tivesse passado muitos sozinhos (era na verdade o oposto), mas era que mesmo dois dias depois os casais se derretiam em olhares e beijos a minha volta enquanto eu queria apenas um pouco de paz. Sem esperar muito, levantei-me da mesa e com as batatas na mão e fui para a única área com verde naquele shopping, o que era uma hipocrisia já que era a área dos fumantes.

- Refrigerante? - Cristina perguntou sentando-se ao meu lado com uma latinha de Coca fechada, objeto que devorei em segundos.

- Não sabia que você tinha voltado a beber refrigerante. - eu falei a olhando.

- Não tomo refrigerante, sou alérgica a um dos conservantes que existem em refrigerante. - ela falou olhando pra mim. - Tudo bem?

- Tudo. - eu menti, mas como ela me olhou com olhos de calma eu admiti. - Não. Estou estranho demais, não sei que fazer da minha vida. Acho que estou perdido.

- Não acho que você esteja perdido, você conseguiu achar uma loja onde vender 'Nerds' em tamanho gigante a caixa e trouxe pra mim. - ela falou sorrindo e me fazendo sorrir. - Bem, não posso ficar muito tempo, vou pra casa. Quer carona?

- Você é a única pessoa que oferece carona quando vamos pra casa de ônibus. - eu falei olhando pra onde nossos amigos estavam. - Eu aceito, já que minha presença ou falta dela ali não está sendo sentida.

...

Enquanto Cris tomava um banho já que ia sair eu fiquei na sala do apartamento dela olhando as fotos espalhadas pela parede branca onde as pessoas escreviam ou desenhavam, observei as memórias dela enquanto o barulho do chuveiro me acalmava. Estava já sorrindo como antigamente quando eu percebi no canto direito embaixo do ‘tema melhores lembranças’ uma foto da nossa turma numa festa. As sensações e lembranças vieram como uma avalanche na minha cabeça e de repente eu estava sentado absorvendo tudo com uma velocidade surpreendente.

Na minha cabeça a nossa historia passava: o dia que a conheci naquele museu, eu caindo e ela me socorrendo embora tivesse cicatrizes de quedas, o tanto de amigos que temos em comum, o seu sorriso sempre na minha direção. Oh céus! Como fui tolo em não querer ela pra mim desde aquele primeiro momento! O nosso primeiro beijo, um pedido suplicante seu que eu não queria dar, mas que depois me completava. O que éramos sem ser: o estar junto e separado enquanto você lia e eu fumava, o café que eu fazia pra você estudar enquanto eu jogava vídeo-game, o não marcar de sair e acabar se encontrando, a minha mania de estar lá fora sempre fumando um cigarro ou um baseado enquanto você ficava lá dentro fotografando suas memórias ou conversando e fazendo novos amigos. Até que um dia eu achava aquilo banal demais e terminamos, e quando reparei você já era minha melhor amiga e continuava ao meu lado mesmo quando eu me entreguei ao 'vício' ou quando conheci a Guty.

- Se você se machucar dessa vez não vou ter kit de primeiros socorros. - Cris falou já pronta ao meu lado. E ela estava tão linda com uma blusa branca simples, uma blusa de malha leve e seu jeans. Mas quando ela me tocou eu entendi que o sol que me aquecia era ela. E eu fiquei confuso. - Vai sair?

 - Sim. - ela falou pegando a bolsa. - Com o Jeremy. - o sorriso dela foi pequeno, mas me impressionou. Deveria ter tantas borboletas na barriga dela ao pronunciar o nome dele que fiquei com inveja.

- Desculpa. - eu falei me retirando. - Tenho que ir pra casa.

Ela apenas acenou com a cabeça, me dando um abraço demorado no qual absorvi todos os seus aromas de uma vez, eternizando-os na minha memória.

Sabe o que doía agora? Era saber que ela era diferente, espontânea e careta. E que mesmo ela não fazendo nenhuma das minhas loucuras eu podia saber que ela estava lá, do meu lado de alguma forma. E o estranho era saber que ela havia comentado desse Jeremy pra mim e eu ainda brincar que ele era certo pra ela. Como eu podia tê-la perdido assim?

....

Já na minha casa (onde minha mãe insistia em dizer que eu era mais feliz quando a Cris estava mais ao meu lado), eu abri a porta do meu quarto fechando-o em seguida para poder olhar mais uma vez a nossa foto furtada, onde naquela festa ela me pediu um beijo. A foto foi tirada antes desse beijo e eu nunca havia reparado que ela era tão sorridente pra mim. Segurando as lágrimas eu virei à foto pra perceber o que a legenda dizia num trocadilho com uma conversa nossa e então eu sabia que de alguma forma ela ainda era ou seria minha novamente.

- Você gosta de ilusão? É isso mesmo produção? - eu falei estranhando.

- Não exatamente. - ela falou sem tirar sua atenção do livro que tinha acabado de ganhar. - Só existe uma ilusão que eu gosto e que nunca me permito esquecê-la por mais distante que ela esteja.

Na foto nossos amigos estavam na frente fazendo palhaçadas enquanto estávamos ao fundo conversando como um  quase casal. A legenda apenas dizia: "Minha ilusão de Dia dos Namorados..."

E assim eu chorei pela primeira vez.

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Feliz Dia dos Namorados á todos. Que a ilusão vos acompanhe e embale seus mais doces sonhos. Quem lhe garante que ela não vai se tornar real? 


Ao som de More Than This – One Direction <3 


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